Igreja Inclusiva de portas abertas para os homossexuais

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É possível deixar de ser homossexual como se desliga um botãozinho? A nova Igreja Inclusiva do Recife entende que não. E ela abre as portas para gays e lésbicas que sentem vontade de seguir a Cristo, mas enfrentam barreiras em outros templos religiosos, sejam católicos ou evangélicos.

O alvo prioritário é a minoria que se afastou do convívio com Deus ao ser vista com preconceito por outras religiões. A maior diferença da Inclusiva e de outras cristãs tradicionais é que ela não defende a “cura espiritual” para quem gosta de alguém do mesmo sexo e aceita todos os públicos. Ao contrário do que se pode imaginar, a doutrina não é permissiva a tudo. Para entender o que ela prega, é preciso ir além das palavras grafadas na Bíblia atual e se permitir a novas interpretações sobre o contexto histórico no qual os textos foram escritos há mais de três mil anos.

A Igreja Inclusiva no Brasil nasceu em São Paulo, há cerca de cinco anos, mas ainda é nova no Recife. Ela ainda não possui sedes tradicionais e está dividida em duas denominações: a Comunidade Cristã Nova Esperança (CCNE) e a Progressista. Seus integrantes ainda se reúnem em casas ou realizam cultos em lugares mais discretos, como o laguinho da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O objetivo prioritário é resgatar aqueles que abandonaram as igrejas tradicionais e passaram a ter uma vida descompromissada com os ensinamentos de Cristo.

Sim, eles estão abertos a qualquer um que esteja disposto a buscar uma mudança de vida, como abandonar a bebida em excesso, as drogas, o sexo promíscuo, o adultério, entre tantos outros. “As deformações de caráter vão sendo modificadas aos poucos, por Deus, e não por nós”, afirmou Timóteo Reinaux, obreiro da CCNE. Ele morava em São Paulo, onde frequentava um templo da mesma denominação. Chegou ao Recife neste ano para abrir uma célula.Para ser membro de ambas as denonimações, é preciso professar a fé em Cristo, participar do estudo da Bíblia e dos cultos. E só então ser batizado nas águas. Depois de cumprir todas as etapas, pelo menos por um dos cônjugues, é permitido o “casamento”, ou bênção matrimonial para casais do mesmo sexo. À essa altura, o leitor pode estar se perguntando, com base no que ouviu de geração em geração: “mas a homossexualidade não é pecado?” Para as Igrejas Católicas e Evangélicas do Brasil, a resposta é sim. Sentir prazer sexual com alguém do mesmo sexo é visto como “abominação” (toebah). Mas a Igreja Inclusiva Cristã entra nesse debate de forma diferente.

Uma das polêmicas mais conhecidas está no Antigo Testamento, no livro de Levítico, capítulo 18;22 cujo texto é duro contra a homossexualidade. “Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é”, diz o versículo 22. Segundo o sociólogo e pastor Bruno Lima, o primeiro a coordenar a sede regional da CCNE, no Rio Grande do Norte, o mesmo Levítico traz orientações que não são seguidas pela sociedade, porque proíbe a ingestão de moluscos e porco, por exemplo, além do corte de cabelo e da barba. Ele frisou, contudo, que nada disso mais é defendido nos cultos, exceto o versículo 22. Ainda assim, de forma equivocada.

De acordo com Bruno Lima, a frase exemplifica um conjunto de rituais que condicionava as atividades sacerdotais dos levitas, homens que tinham a tarefa de cuidar do templo. A palavra “toebah” significa sacrilégio e, em outros momentos, é usada no sentido de ritual. “Os capítulos 17 a 26 faziam parte de um documento denominado código de santidade, que tentava condenar práticas comuns entre os cananitas, povo que adorava o deus moloque e a ele prestava rituais de idolatria”, afirmou, acrescentando que, na época, era muito comum a realização de sexo entre homens cananitas durante culto a deuses estranhos. Por isso, de acordo com Bruno Lima, precisava ser tão ressaltado para que os levitas não fizessem o mesmo. “O que Deus proibia era o sexo promíscuo e feito em rituais”, frisou.

Doutrina ainda pouco conhecida

Formada por um público jovem, a Inclusiva ficou mais conhecida no Recife após o “sim” mais polêmico do ano, quando os arquitetos Turíbio e Zezinho Santos oficializaram a união, em setembro passado, e receberam uma bênção religiosa na Coudelaria Souza Leão, na Várzea. Mas a doutrina ainda é pouco conhecida. Embora a Comunidade Cristã Nova Esperança (CCNE) exista desde 2002 em São Paulo, ela só se transformou em “célula” na capital a partir deste ano. O que seria uma célula, então? Segundo o obreiro Timóteo Reinaux, é uma reunião frequente de pessoas, mas ainda sem número suficiente para manter a estrutura de uma sede.

Reinaux conta que o grupo da CCNE no Recife se reúne há quase seis meses na Rua Elpídio Monteiro, nº 18, na Imbiribeira, Zona Sul da capital, e pode ser localizado no Orkut ou pelo e-mail ccnerecife@hotmail.com. Os integrantes se encontram de 15 em 15 dias, realizam cultos, estudam a teologia inclusiva e a Bíblia. Segundo ele, a Inclusiva segue uma doutrina semelhante a de igrejas evangélicas mais abertas, com a diferença que não prega “cura espiritual”, nem qualquer tipo de terapia para o público-alvo.

De acordo com o obreiro, as pessoas precisam entender que a homossexualidade não é uma opção e sim uma característica, como a própria cor da pele e dos olhos. “Não se sabe qual a origem, se social ou genética, mas não podemos mudar essa orientação. Muitas pessoas passam por essas terapias, oram, jejuam. E não deixam de sentir atração pelo mesmo sexo, sentem-se culpadas e vivem infelizes a vida inteira”, acrescentou.

Para entrar na Igreja Progressistas de Cristo, que também não tem sede, a seleção é mais rigorosa. O contato só é possível no site http://www.todosdejesus.fr.gd/. Nesse ambiente virtual, a pessoa interessada manda um e-mail e recebe uma resposta direta do pastor Kleyton Pessoa. Segundo ele, os encontros acontecem há mais de um ano. Seus integrantes são mais discretos, porque alguns ainda estão ligados a igrejas tradicionais. “Procuramos não expor nosso público”.

De Natal, o pastor BrunoLima cita um versículo bíblico ao ser questionado porque a igreja só veio surgir recentemente. “A Bíblia nos fala que há tempo para tudo. A humanidade não está esquecida por Deus. Pois, no tempo certo, os negros e as mulheres foram libertos e assumiram a devida importância na sociedade”, declarou.

Fonte: Diario de Pernambuco

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