Religiões são geralmente vistas como balizadoras de comportamentos. No
entanto, quando se trata de prever o comportamento criminoso, as crenças
religiosas são um fator determinante, afirma um psicólogo da
Universidade de Oregon.
O estudo, publicado na Public Library of Science (PLoS ONE), indica
que a atividade criminal é menor nas sociedades onde as crenças
religiosas das pessoas servem como um forte elemento punitivo. Em
especial quando comparado com lugares onde as crenças religiosas são
mais brandas.
Um país onde muitas pessoas acreditam mais no céu do que no inferno,
por exemplo, provavelmente terá uma taxa de criminalidade muito maior do
que nações onde essas crenças são praticamente iguais. A descoberta
surgiu a partir de uma análise abrangendo dados reunidos ao longo de 26
anos, num total de 143,197 pessoas em 67 países.
“A principal conclusão é que nos lugares onde se crê no inferno
existem taxas mais baixas de criminalidade, mas nos países onde se crê
apenas no céu há taxas maiores de criminalidade, e estes são efeitos
duradouros”, disse Azim F. Shariff, professor de psicologia e diretor do
Laboratório de Cultura e Moralidade na Universidade de Oregon.
Ele acrescenta: “Acho que é uma pista importante entender os efeitos
que causam a expectativa de punição sobrenatural ou de bondade
sobrenatural. Os dados confirmam pesquisas anteriores feitas com grupos
restritos, mas esse efeito no ‘mundo real’ mostra como a crença
realmente afeta as pessoas em relação ao crime”.
No ano passado, em um artigo para a Revista Internacional de
Psicologia da Religião, Shariff informou que os estudantes
universitários que acreditam em um Deus que perdoa eram mais propensos a
trapacear do que os que crêem em um Deus punitivo.
Essas descobertas cientificas recentes continuam mostrando que a
idéia de punição divina influencia na maneira como as pessoas vêem a
vida. Em 2003, por exemplo, Robert J. Barro e Rachel M. McCleary,
pesquisadores da Universidade de Harvard mostraram que o produto interno
bruto foi maior nos países desenvolvidos em que as pessoas acreditavam
no inferno mais do que criam no céu.
Em relação aos dados de sua pesquisa, Shariff acredita que ”Podemos
apenas especular sobre os mecanismos disso tudo, mas é possível que as
pessoas que não acreditam na possibilidade de punição após a morte
tendem a ter um comportamento antiético. Não sentem que há um
impedimento divino”.
O coautor do estudo, Mijke Rhemtulla, do Centro de Métodos de
Investigação e Análise de Dados da Universidade de Kansas, destaca que
são necessárias investigações mais profundas para explorar todas as
interpretações possíveis desses resultados.
Os dados usados por ele e Shariff foram retirados do World Values, um
levantamentos sobre valores feito em diversos países da Europa ao longo
de diferentes períodos de tempo entre 1981 e 2007. Os dados sobre
criminalidade foram retirados dos registros compilados pelas Nações
Unidas sobre homicídios, roubos, estupros, seqüestros, assaltos, crimes
relacionados a drogas, furtos e tráfico de seres humanos.
Outros fatores importantes foram as taxas de religião dominantes das
nações (católicos, evangélicos e muçulmanos), além de desigualdade de
renda, expectativa de vida e taxas de encarceramento.
Traduzido e adaptado de Huffington Post
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