A
decisão do governo de privilegiar a Igreja Católica constrange os
militantes kirchneristas. O próprio Martín Sabbatella, diretor da
Autoridade Federal de Serviços de Comunicação (Afsca), além de
deputados, evitam falar sobre o assunto. No máximo alegam que a Igreja
Católica possui um status legal especial, já que é uma entidade
pré-existente ao próprio Estado argentino. Isto é: existia Igreja
Católica antes da Argentina ser independente. “Se for por isso, as
igrejas protestantes também existiam aqui antes da independência”,
afirma Bruno. “Inclusive, vários evangélicos lutaram nas guerras da
independência”.
Evangélicos e outros grupos religiosos
estão insatisfeitos com a Lei de Mídia proposta pelo governo argentino.
No artigo 37, a legislação diz que a Igreja Católica será a única
entidade religiosa que tem direito a canais de TV e estações de rádio
sem necessidade de autorização prévia ou licitações. Informou o
jornalista Ariel Palacios, correspondente de O Estado de S.Paulo em
Buenos Aires.
Gastón Bruno, vice-presidente de
relações externas da Aliança Cristã de Igrejas Evangélicas da Argentina
(ACIERA), afirmou que a entidade defende “a igualdade religiosa” na
Argentina. “Não estamos contra credo algum. Simplesmente queremos
tratamento igualitário”, afirma Bruno, lamentando a exclusão das igrejas
evangélicas da lei de mídia. “Nós representamos 5 milhões de pessoas”,
afirma.
“Para o Estado argentino as igrejas
evangélicas são entidades civis e não uma fé. E isto ocorre 200 anos
depois da independência do país, momento no qual se produz a igualdade
de vários direitos de vários setores. Mas nós, embora sejamos uma
minoria crescente e dinâmica, não somos tratados de forma igualitária”,
explica.
O Conselho Nacional Cristão Evangélico
(CNCE) da Argentina sustenta que lei de mídia gera “uma dolorosa e
inexplicável discriminação religiosa”.
As outras entidades religiosas, entre
elas, as vinculadas comunidade judaica (a maior da América Latina) e a
muçulmana, também ficam de fora desses privilégios que a presidente
Cristina Kirchner – que cita Deus e o marido morto em seus discursos –
concedeu à Igreja Católica. Oficialmente, a Argentina possui um Estado
laico.
Igreja Católica possui ‘status legal especial’
Coincidentemente, a alta hierarquia do
clero em Buenos Aires – que havia desferido duras críticas contra os
Kirchners durante vários anos – desde a aprovação da lei de mídia,
embora pronuncie alguma eventual crítica, manteve um perfil mais baixo e
evitou participar das controvérsias sobre a norma que limitará a
atuação das empresas privadas na área de jornalismo.
O Estado argentino, por uma lei da
ditadura (a de número 21.950), paga os salários dos bispos e dos padres
da Igreja Católica. Também subsidia seminaristas. O governo Kirchner
nunca disse nada sobre este assunto. Informações sobre esse benefício
são encontradas no site do Ministério das Relações Exteriores e Culto
(assuntos burocráticos relativos à religião são tratados pela
chancelaria).
Perfil religioso do país
Segundo uma pesquisa realizada em 2009
pelo governo, 76% dos argentinos foram originalmente batizados
católicos. Mas, apenas 6% são praticantes.
A totalidade das igrejas evangélicas na
Argentina não reúne mais de 10% da população. Porém, ao contrário dos
católicos, o grupo evangélico é totalmente praticante. Os evangélicos
argentinos não possuem uma bancada que os represente no Parlamento, e
tampouco contam com redes de televisão.
Os ateus, no entanto, segundo a pesquisa, ultrapassam católicos e evangélicos praticantes, representando 11,3% da população.
O país conta com a maior comunidade
judaica da América Latina – calculada entre 300 mil e 500 mil pessoas –
além de uma presença muçulmana (estimada em 500 mil pessoas) nas
províncias do norte e noroeste.
Até a reforma constitucional de 1994 a
Carta Magna determinava que somente poderia ser presidente um católico
apostólico romano. A reforma excluiu essa restrição.
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