A aproximação da Rede Globo com os evangélicos continua
rendendo. Depois de contratar vários artistas gospel para sua gravadora,
Som Livre, e exibir o Festival Promessas, o próximo passo deve ser uma “heroína evangélica” em uma de suas produções.
Amauri Soares, o coordenador dos projetos especiais da Globo, irá almoçar com o pastor Silas Malafaia,
da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. A conversa deve ser sobre os
“interesses comuns” entre emissora e evangélicos, afirma a Folha de São
Paulo.
Além disso, Soares deverá ter uma reunião ainda este mês com o bispo Robson Rodovalho, da igreja Sara Nossa Terra.
Esses encontros com os líderes evangélicos são um desdobramento da
reunião em 12 de novembro passado, quando 17 pastores estiveram no
Projac, os estúdios da Globo no Rio. Embora muito criticada por
segmentos da igreja, essa reunião teve como pauta “apoio e cobertura”
para eventos como Marcha para Jesus, Dia do Evangélico e Dia da Bíblia.
Karina Bellotti, doutora da Unicamp que estuda mídia e religião
acredita que “Nos últimos cinco anos, a Globo se aproximou desse público
porque tem lhe conferido não somente peso de formação de opinião, mas
também de mercado consumidor”. E acrescenta “é importante destacar que a
bancada evangélica cresceu no Congresso, assim como o poder aquisitivo
de muitos evangélicos que ocupavam a classe C”.
Por sua vez, o pastor Silas Malafaia reforça que “não há nenhum
acordo para nos proteger” e ”Que cada pastor que pague a conta pela sua
besteira.” Rodovalho comemora “A decisão [de abrir mais espaço para
evangélicos] é deles.
Para os líderes está na hora de a Globo investir em personagens
evangélicos na teledramaturgia. Recentemente, a Globo mostrou duas
coadjuvantes evangélicas: Ivone (Kika Kalache), de “Cheias de Charme”, e
Dolores (Paula Burlamaqui), de “Avenida Brasil”. Mas a recepção entre
os evangélicos não foi boa, pois eram estereotipadas.
Segundo a assessoria da Globo, nesse último encontro os pastores
“manifestaram o interesse em falar sobre o perfil atual do evangélico
brasileiro para autores e roteiristas. A emissora considera a
contribuição relevante, assim como as que recebe de vários segmentos da
sociedade, inclusive de outras religiões”.
O fato é que os casamentos nas novelas geralmente são católicos. E o
tema do espiritismo nas produções da Globo são constantes. Quando
aparecem personagens evangélicos, “é crente, mas vagabundo. É pastor,
mas safado”, provoca Malafaia.
No passado, Malafaia trocou abertamente farpas com a Globo por conta
do que considerava um preconceito. “Em 25 anos, vin-te e cin-co [pontua
cada sílaba], lembro de apenas uma reportagem boa na Globo sobre
evangélicos. E tem semana em que, todo dia, o ‘Jornal Nacional’ fala bem
da Igreja Católica”, explica.
Mas os tempos são outros. “No passado, éramos corpos estranhos, não
tínhamos nenhum diálogo. Agora é diferente”, conclui Rodovalho.
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