A esquizofrenia não é considerada
doença, mas transtorno mental que ataca pelo menos 1% da população
mundial. Dentre as suas muitas manifestações, uma das mais comuns se
caracteriza por delírios paranóides, aonde a pessoa se sente perseguida,
odiada, rodeada de inimigos. Entretanto, se observarmos o universo
“gospel” de nossos dias, veremos que 1% de esquizofrênicos em nosso meio
é uma porcentagem modesta ante o quadro que se nos apresenta. Os
crentes de um modo geral se sentem eternos perseguidos por uma cifra
enorme de inimigos, tanto dentre vizinhos incrédulos, patrões
perseguidores, colegas de trabalho escarnecedores e maus, e até irmãos
da fé, dentro de nossas Igrejas, sentados ao nosso redor e derredor nos
cultos de adoração a Deus. O “esquizofrênico Gospel” se considera assim,
odiado pelos de fora e até pelos próprios irmãos, ao melhor estilo de
José, filho de Jacó, que anseiam e trabalham diuturnamente pela sua
queda. Querem sua posição no coral, na equipe de louvor, na classe de
EBD, no corpo de Obreiros, na direção do Círculo de Oração… Querem seu
emprego, seu salário e sua posição empresarial ou profissional, querem
seus dons e talentos e alguns mais afoitos querem até o seu casamento,
seu marido ou sua esposa, os seus filhos obedientes, a harmonia de seu
lar!
Infelizmente, somos ensinados e
“treinados” a agirmos assim. Tanto as mensagens que são pregadas em
nossos púlpitos como as músicas que infestam nosso cancioneiro gospel
contribuem para que esta esquizofrenia se alastre entre nós.
Interpretações equivocadas do AT levam muitos pregadores a julgar que
somos rodeados uma grande nuvem de inimigos.
Os hits de nossa “Parada de Sucessos
Gospel” contribuem também ― e muito!― para fomentar este mal. Grande
parte dos “hinos” atuais falam que nossos inimigos estão constantemente
tramando contra nós, mas serão destruídos, teremos vitória sobre eles,
eles contemplarão de pé a nossa vitória etc. A canção “SABOR DE MEL”
segue o mesmo padrão, pois no dia de nossa vitória os nossos inimigos
vão estar na plateia, enquanto nós estaremos no palco, devidamente
honrados, e aqueles arrependidos.
Os crentes também são os maiores e mais
fieis adeptos das teorias de conspiração que pululam nas redes sociais e
sites, e que estão invadindo nossas igrejas e seus cada vez mais
escassos e simplórios Cultos de Doutrina e EBD. Ao invés de
aproveitarmos estes Cultos para ensinarmos as Escrituras e a sã
doutrina, ensinamos as teorias loucas e as fábulas, tão combatidas no NT
(1 Tm 1:4; 4:7; Tt 1:14; 2 Pe 1:16).
Existem os ímpios (e até crentes!) que
usam até da feitiçaria em seu afã de nos destruir. Fazem “despachos”
para nos matarem, para nos lançarem no leito, para que percamos o
emprego, para que haja separação de meu casamento e coisas afins…
Mas ainda existe aqui aonde moro a
famosa “macumba gospel”, chamada de “oração contrária”. Muitos crentes
que eu conheço se dizem vítimas de irmãos-inimigos que, não suportando
qualquer sinal de prosperidade em suas vidas, passam a orar contra eles,
pedindo a Deus que não mais os abençoe, que seus negócios não prosperem
etc. Sinceramente, não consigo imaginar um Deus cujo atributo eterno é a
justiça ouvindo e atendendo qualquer tipo de oração que se enquadre
nesta categoria! Se Deus me ouve somente nas petições que são da Sua
vontade (1 Jo 5:14), para que temer qualquer oração que não se enquadre
nesta condição?
E assim caminha a cristandade… Igrejas
cheias de crentes que se recusam a conhecer e prosseguir em conhecer ao
Senhor (Os 6:3), que desconhecem e descumprem as Escrituras, que se
julgam perseguidos e rodeados de inimigos Uma epidemia de esquizofrenia
digna de algumas considerações à luz da Escritura:
1. Nosso inimigo não é a carne e nem o
sangue (Ef 6:12). Neste aspecto, reside a certeza de que os que nos
rodeiam não são nossos inimigos, e mesmo os que assim se declaram não
são os nossos verdadeiros inimigos. O diabo é o inimigo, e é a este
inimigo em particular a quem devemos combater, e não aos inimigos de
carne e sangue. Erramos, pois, primordialmente por não sabermos
reconhecer quem é nosso verdadeiro inimigo, e cometemos tal erro
primário porque nos recusamos a dar ouvidos às Escrituras!
2. Cremos em um Deus protetor. Ele,
dentro da Sua soberana vontade, protege aqueles que são Seus filhos por
adoção em Cristo. Desde o AT ele já fazia isto, tratando Israel sob
proteção. Quando Balaque alugou os “serviços proféticos” de Balaão para
amaldiçoar o povo de Deus, o próprio Senhor lhe respondeu pela boca do
profeta mercenário: “Como amaldiçoarei o que Deus não amaldiçoa?” (Nm
23:8). Logo, não há NADA que os nossos “inimigos” façam contra nós que
venha nos fazer qualquer efeito maléfico, se não for a vontade do
Senhor.
3. Em nenhum lugar do Novo Testamento
somos orientados a viver este tipo de paranoia, medo, fobia, ojeriza de
nossos inimigos. O Evangelho nos ensina a não resistirmos às provocações
deles. Quem nos ferir a face, demos a outra. Quem quiser nossa túnica,
cedamos a capa. Quem quiser nos obrigar a caminhar uma milha, caminhemos
duas. E tudo isso voluntariamente (Mt 5:38-42)! Paulo, escrevendo aos
romanos, prescreveu com detalhes: “A ninguém torneis mal por mal;
procurai as coisas honestas, perante todos os homens. Se for possível,
quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens. Não vos vingueis a
vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a
vingança; eu recompensarei, diz o Senhor. Portanto, se o teu inimigo
tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque,
fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. Não te
deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12:17-21).
4. Jesus deixou muito claro qual deve
ser nossa relação com os que se posicionam abertamente como nossos
inimigos: “Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e aborrecerás o
teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos, bendizei os
que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos
maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos do vosso Pai que está
nos céu…” (Mt 5:43-45). Nossa postura enquanto seguidores de Cristo não é
desprezar, retaliar ou mesmo orar pedindo que eles sejam fulminados,
julgados, desejar que eles assistam humilhados à nossa exaltação etc.
Paulo reafirma esta mesma verdade quando ensina à igreja em Roma:
“Abençoai aos que vos perseguem; abençoai e não amaldiçoeis” (Rm 12:14).
Lamentavelmente, pregadores e suas
“mensagens”, cantores e seus “hinos” têm-nos ensinado uma relação
completamente antibíblica com os nossos inimigos. Eles estão fomentando
em nosso meio não uma submissão ao que ensinam as Escrituras, mas um
ensino mau e legalista de que devemos resistir aos nossos inimigos,
odiá-los, orar pedindo a Deus justiça e juízo sobre eles. Somos chamados
ao AMOR, e este amor não se resume aos nossos irmãos na fé, pois bem
nos ensinou nosso Mestre: “se amardes os que vos amam, que galardão
havereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes
unicamente os vossos irmãos, que fazeis demais? Não fazem os publicanos
também assim? Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que
está nos céus” (Mt 5:46-48). Se insistimos em não ouvir a Jesus, mas seguir
falsas pregações e dar ouvidos a hinos espúrios, não estamos
contribuindo para nossa própria esquizofrenia?
Voltemos à Palavra! Observemos aonde
caímos, e tornemos para o caminho (Ap 2:4-5)! Desprezemos os ensinos
errados! Roguemos ao Senhor que nos cure desta esquizofrenia louca!
Mesmo que tenhamos inimigos declarados, que a inimizade não parta de
nós. Oremos por eles! Falemos bem deles! Abençoemos! Estevão, o primeiro
mártir de nossa fé, mesmo sendo apedrejado orou por seus inimigos na
hora de sua morte (At 7:60); suas últimas palavras foram A FAVOR de seus
algozes. Na época da Igreja Primitiva parece que não existiam
esquizofrênicos no seio da Igreja. Pelo menos Estêvão e os primeiros
mártires sabiam se portar varonilmente, mesmo rodeados de inimigos.
Perdoavam e abençoavam. Que suas vidas nos sirvam de exemplo, e nos
estimule a mudar nossa conduta, antes que esta “esquizofrenia gospel”
vire uma epidemia real, incurável e incontrolável!
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